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A retórica dos gráficos

Dissertação do Design investiga ferramental para elaboração de visualizações de dados persuasivas, que comuniquem de forma eloquente e eficiente o discurso desejado

 

O poder persuasivo do discurso visual dos gráficos e infográficos é diretamente proporcional ao conhecimento do designer acerca dos sistemas cognitivos da linguagem que regem a compreensão do leitor. É o que busca demonstrar a dissertação Visualização de dados: o discurso persuasivo dos atributos visuais nos infográficos, defendida pelo designer – e agora Mestre pela PUC-Rio – Daniel Moura Nogueira, sob a orientação da professora Vera Lúcia Moreira dos Santos Nojima, e a coorientação do professor Frederico Braida, do Departamento de Artes e Design.

A existência de poucas obras relevantes acerca da Infografia, sobretudo considerando traduções para o Português - em contraposição à presença massiva de gráficos e infográficos nos meios de comunicação - despertou em Daniel o desejo de contribuir com a comunidade acadêmica e o meio profissional examinando e analisando atributos visuais dos gráficos e infográficos, sob o ponto de vista da retórica visual. Em sua pesquisa, aliou a dedicação aos estudos à experiência do mercado.

E experiência é que não lhe falta: com mais de uma década de atuação profissional, é, atualmente, diretor da Associação dos Designers Gráficos do Brasil (ADG – Brasil; sócio-diretor do escritório de design Chalk Studio; professor substituto do Departamento de Comunicação Visual da Escola de Belas Artes – UFRJ, e co-fundador do projeto Design é a sua vida! Ele conversou com a Assessoria de Comunicação da Vice-Reitoria Acadêmica sobre a sua pesquisa.

 

Assessoria de Comunicação/VRAC: Qual foi a motivação da sua dissertação?

Daniel Moura: Em contato direto com o desenvolvimento de visualizações de dados, gráficos e infográficos para apresentações corporativas, relatórios anuais e impressos, foi possível notar que profissionais do design da informação coletam fragmentos de informações, referências bibliográficas e fundamentações teóricas em outros campos do saber. Poucas são as obras relevantes acerca da Infografia ‒ ao se considerar traduções para a língua portuguesa, ainda menos títulos estarão à disposição. No entanto, ironicamente, percebe-se a presença massiva de gráficos e infográficos nos meios de comunicação. Se por um lado, o designer possui poucos recursos de fundamentação, por outro, torna-se muito requisitado pelo mercado.

Deste ponto de partida, surgiu o objetivo de realizar esta pesquisa, na tentativa de contribuir com a comunidade acadêmica e o meio profissional, através do cruzamento entre a dedicação aos estudos e a experiência de mercado.

ASCOM/VRAC: Qual seu principal objetivo?

D.M.: A dissertação visou colaborar com o campo do Design da Informação, disponibilizando material que contribuísse para a elaboração de bases teóricas a respeito do desenvolvimento de visualizações de dados persuasivas, ressaltando a importância do papel do designer no processo de construção de conhecimento. Um ponto fundamental foi não buscar desenvolver um guia sobre "o que fazer e o que não fazer em visualizações de dados", mas fornecer embasamento teórico que permita uma reflexão sobre diferentes campos do saber que podem contribuir com a elaboração de visualizações de dados persuasivas.

 Existência de poucas obras relevantes acerca da Infografia motivou a pesquisa do designer Daniel Moura - crédito: divulgação</STRONG><STRONG> 
 Existência de poucas obras relevantes acerca da Infografia motivou a pesquisa do designer Daniel Moura - crédito: divulgação 

 

ASCOM/VRAC: Qual a metodologia de pesquisa adotada?

D.M.: Realizou-se uma abordagem qualitativa e, do ponto de vista dos objetivos, exploratória. Houve intenso levantamento bibliográfico, contato com profissionais com experiência prática, e análises de casos exemplares. A pesquisa visou investigar como se compõem as visualizações de dados e como o designer pode reforçar o poder persuasivo do discurso visual dos gráficos e infográficos. Para tal, partiu-se das pesquisas sobre a Retórica do Design Gráfico, proposta por Almeida Junior (2009), fundamentada no Tratado da Argumentação, a Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1958), e, também, das recentes pesquisas no campo da Percepção Visual, compiladas por Ware (2004) e Few (2009), de forma a aumentar o ferramental disponível para a manipulação dos atributos visuais nos gráficos e infográficos. Buscou-se um aporte teórico na Teoria Geral do Signos, de Charles Sanders Peirce (1839-1914), como forma de transitar pelos diferentes referenciais teóricos e organizar, de forma didática, as análises dos casos exemplares selecionados. Questões relativas à ética do discurso não foram aprofundadas, apenas citadas, mantendo o foco na forma como os dados quantitativos e qualitativos podem ser representados por meio dos elementos gráfico-visuais utilizados em esquemas diagramáticos bidimensionais, bem como o papel do designer na confecção dos mesmos.

ASCOM/VRAC: Como se dá a persuasão na infografia impressa?

D.M.: O que creio ser relevante é perceber que o papel do designer é elaborar o discurso visual a partir de uma pauta, texto, dados etc. O designer vai transformar, vai reinterpretar informações para adequá-las a públicos diferentes (Otto Neurath propôs o conceito de transformador já nos anos 20). Então, quanto maior for o conhecimento acerca dos sistemas cognitivos da linguagem que regem a compreensão do leitor, maior será a sua capacidade de elaborar visualizações persuasivas. O Tratado da Argumentação, a Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1958), apresenta-se como uma obra pertinente para a compreensão aprofundada dos fenômenos envolvidos no tema.

 

 Análise retórica do infográfico <EM>A máquina de cachoeira - </EM>edição de 20 de abril de 2012 da <EM>Folha de S. Paulo</EM> - design de Paulo Gama e Simon Ducroquet</STRONG><STRONG> 
 Análise retórica do infográfico A máquina de cachoeira - edição de 20 de abril de 2012 da Folha de S. Paulo - design de Paulo Gama e Simon Ducroquet 

ASCOM/VRAC: Como os infográficos podem ser cada vez mais persuasivos, correlacionando-os aos sistemas cognitivos que regem a compreensão do leitor?

D.M.: Em primeiro lugar, o designer, tal como um orador, precisa conhecer o seu auditório. É como o item público-alvo no briefing de qualquer projeto. Quanto maior for a capacidade de se colocar no lugar do leitor, melhor poderá elaborar o discurso visual, pois usará elementos que sejam prontamente percebidos pelo mesmo, facilitando a hierarquia das informações e tornando a narrativa compreensível. Considerando-se a percepção visual, o designer poderá escolher um atributo visual (cor, forma, tamanho etc.) para destacar uma informação relevante. Do ponto de vista cultural, no entanto, uma mesma cor pode ter significados completamente distintos para um leitor de origem oriental e um brasileiro, por exemplo. Ou seja, não basta conhecer o sistema visual humano e quais atributos são percebidos facilmente, é necessário compreender como o discurso visual deve ser elaborado conforme o leitor.

ASCOM/VRAC: E quanto à infografia dinâmica? Como se daria o processo?

D.M.: Se considerarmos os infográficos com recursos interativos, outras questões devem ser levadas em consideração. Diferentemente do meio impresso, o suporte digital permite o uso de animações, sons, zoom, filtros e diversos outros recursos de forma dinâmica. No entanto, a escolha de quais recursos estarão disponíveis, a definição da abordagem dos eventos ou fenômenos retratados, de como será o estilo visual do infográfico, de como será a narrativa, entre outras decisões, se dão de forma semelhante às escolhas que devem ser feitas ao se realizar um projeto estático. A complexidade costuma ser ampliada, alguns dos profissionais envolvidos são distintos, mas, ainda assim, é necessário compreender os mesmos fundamentos principais para que o projeto seja bem sucedido.

ASCOM/VRAC: Quais foram as principais conclusões e recomendações?

D.M.: O foco da pesquisa foi, justamente, buscar meios de extrair e reunir informações que permitam que o designer de informação tenha maior domínio sobre as ferramentas possíveis de serem usadas no momento da elaboração de gráficos e infográficos. Partindo de referenciais teóricos relevantes ao campo do Design, investigando tópicos relacionados à linguagem, percepção visual, retórica, semiótica, com o objetivo de fornecer subsídio à maior compreensão sobre o funcionamento do ‘auditório’ – tanto no primeiro momento, na aquisição de estímulos; em uma segunda etapa, na cognição propriamente dita; e, finalmente, na interpretação das informações.

No momento atual, o campo que mais carece de atenção é o da retórica inserida no campo do Design. Um tópico tão relevante para o designer, mas com poucas obras debruçadas no assunto.  Relembrando Bonsiepe sobre a retórica, “... é um dos campos menos pesquisados do Design, embora o designer enfrente inevitavelmente esse fenômeno no seu trabalho projetual cotidiano".

Espero que o estudo realizado seja útil à comunidade acadêmica e ao meio profissional, para que seja possível compreender o funcionamento dos processos que influenciam o poder persuasivo das visualizações de dados, observando-se como se dão a percepção, cognição e a interpretação dos mesmos pelo leitor. Que esta pesquisa, apesar de ainda ser apenas o início de um caminho, contribua com o campo do Design.

Por Renata Ratton

Assessoria de Comunicação

Vice-Reitoria Acadêmica

Publicada em: 04/06/2014

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