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Uma 'ciberteoria' da evolução

Livro Do email ao Facebook: uma perspectiva evolucionista sobre os meios de conversação da internet, de coautoria do professor Hugo Fuks, da Informática, analisa a cibercultura a partir da perspectiva da computação

 

 

A lei do mais forte parece encaixar-se perfeitamente aos sistemas de informação. Em vez de pessoas utilizando-os, foram os sistemas o foco de análise do livro Do email ao Facebook: uma perspectiva evolucionista sobre os meios de conversação da internet (editora UniRio), que tem como um dos autores o professor Hugo Fuks, do Departamento de Informática.

 

Conceitos, leis, modelos e métodos foram elaborados para tentar entender a competição entre os meios de conversação pelo número crescente de usuários: uma relevante contribuição ao estudo da cibercultura, resultante, direta e indiretamente, de décadas de pesquisa e atuação na área de Sistemas de Informação. Em entrevista à Assessoria de Comunicação da Vice-Reitoria Acadêmica, o professor Hugo Fuks fala sobre o livro.

 

Ascom/Vrac - Qual foi a motivação para escrever o livro?

 

Hugo Fuks - Vivemos em uma época de profundas mudanças em nossa sociedade, influenciadas pelo desenvolvimento das tecnologias digitais em rede. Basta abrir o Facebook, por exemplo, para nos depararmos com inúmeras mensagens, enviadas a todo momento, sobre os mais diversos assuntos. Não dependemos mais da mídia de massa para obter notícias, agora nós as recebemos pelos amigos, ou dos amigos dos amigos que testemunharam os fatos de perto. Somos emissores de conteúdo ao postar um comentário e conversamos com multidões sem intermediários. A cibercultura, que é a nossa cultura contemporânea mediada pelas tecnologias digitais em rede, é o fenômeno técnico-social do nosso século. Dada a necessidade de compreender as novas práticas, os sistemas e os meios de conversação se tornaram objetos de pesquisa em diferentes áreas de conhecimento.

 

Nossa motivação, enquanto pesquisadores na área de Sistemas de Informação, foi contribuir para analisar a cibercultura a partir da perspectiva da computação: em vez de pessoas usando os sistemas, colocamos os sistemas em foco e entendemos que esses sistemas estão competindo entre si pelos usuários. Foi assim que estabelecemos a analogia com a evolução dos seres vivos da Biologia:  é como se os sistemas fossem seres vivos, a cultura fosse o ambiente onde os sistemas vivem, e os usuários fossem os recursos pelos quais competem os sistemas de uma determinada espécie.

 

A partir daí, elaboramos conceitos, leis, modelos e métodos que respondem a questões fundamentais como: quais são os meios de conversação da internet, como evoluem e se diferenciam, por que alguns sistemas que implementam meios de conversação sobrevivem enquanto outros são extintos, como ocorre a competição entre eles pelos usuários? Para essa discussão, consideramos os aspectos tecnológicos e culturais que influenciaram a evolução dos meios de conversação ao longo do tempo.

 

O trabalho de pesquisa, que resultou nesse livro, se iniciou com a dissertação de mestrado do Leandro Dantas Calvão, sob a orientação do professor Mariano Pimentel, da UNIRIO, meu ex-aluno de doutorado. Participei da defesa e fui convidado a transformar aquele trabalho num livro. Depois da dissertação defendida, ainda trabalhamos por quase dois anos refinando os conceitos e tornando a leitura mais prazerosa, tornando o texto mais acessível e com ilustrações interessantes.

 

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Capa do livro "Do email ao Facebook...": disputa dos meios de conversarção pelos usuários

 

Ascom/Vrac - O tema está intimamente ligado às linhas de pesquisa em que você vem trabalhando, nos últimos anos no Departamento de Informática.

 

H.F.: Esse novo livro é resultado de todas as minhas pesquisas anteriores, não apenas nos últimos anos, mas nas últimas décadas, pois investigo o uso e o desenvolvimento dos sistemas que implementam os meios de conversação da Internet desde que vim trabalhar no Departamento de Informática da PUC-Rio, no início da década de 1990. Naquela época, realizei pesquisas relacionadas ao projeto Refletor Rio Internet TV, que foi o primeiro servidor público brasileiro de videoconferência, acessado por centenas de pessoas diariamente.

 

Depois que a web foi aberta para o uso comercial, o que no Brasil ocorreu em meados de 1990, a sociedade foi se conectando, dando início ao fenômeno que hoje intitulamos de cibercultura. Foi no final daquela década, e até meados de 2000, que realizei pesquisas relacionadas ao projeto AulaNet, que se tornou um importante ambiente virtual de aprendizagem brasileiro daquele período. Investigava como os meios de conversação da Internet, como o fórum e o bate-papo, potencializam novas formas de educação e modificam a relação entre professor-aluno e dos alunos entre si; hoje, no Brasil, já temos 15% dos graduandos brasileiros estudando a distância, um fenômeno que só se tornou possível graças aos meios de conversação e de interação proporcionados pelos computadores conectados em rede.

 

Relacionado ao projeto AulaNet, co-autorei o livro Professores e Aprendizes na Web: A Educação na Era da Internet. Depois de ter orientado algumas teses de doutorado e dissertações de mestrado sobre o tema, em 2011 organizei e publiquei o livro Sistemas Colaborativos, que são os sistemas para apoiar o trabalho em grupo; esse se tornou o livro-texto da disciplina homônima dos cursos de graduação em computação no Brasil, e recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura. Agora, em 2014, publico esse novo livro sobre o Facebook e outros sistemas contemporâneos que possibilitam a conversação em rede, a base da cibercultura.

 

Ascom/Vrac - De onde surgiu a ideia da analogia com a evolução dos seres vivos e o meio ambiente? A comparação é algo inédito nos estudos da cibercultura?

 

H.F.: A ideia surgiu a partir de um trecho do livro Projetando Websites: a prática da Simplicidade, de Jackob Nielsen, um dos pesquisadores mais importantes sobre interação humano-computador, em que afirmava: A Web está evoluindo nesse exato momento e os experimentos acontecem de forma manifesta na internet (...) O resultado é um darwinismo de design muito mais rígido, em que as ideias sucumbem e queimam em público. As melhores ideias de design acabarão sobrevivendo e as ruins cairão, pois os usuários abandonarão os sites mal concebidos. Passamos a investigar a evolução dos sistemas que implementam os meios de conversação da internet a partir da perspectiva evolucionista. Os estudos sobre a evolução dos seres vivos têm sido transpostos para diversas áreas para analisar outros fenômenos, como a evolução das tecnologias, do design e da cultura. Nossa contribuição foi desenvolver essa perspectiva evolucionista especificamente para o domínio dos meios de conversação da internet.

 

Ascom/Vrac - Como se deu a produção do livro?

 

H.F.: Ao produzirmos esse livro, buscamos ser condizentes com as práticas que emergiram com a cibercultura. Publicamos nosso livro em formato e-book <http://tinyurl.com/kqwprnh>, para ser lido no tablet ou no smartphone, que são os dispositivos computacionais mais contemporâneos.

 

Elaboramos uma página no Facebook <http://www.facebook.com/meiosdeconversacao> para o nosso leitor poder discutir conosco e com os outros leitores do livro. Temos pedido para os nossos amigos compartilharem a notícia do lançamento do livro para nos apoiar a fazer uma propaganda viral.

 

Nosso livro não foi produzido por uma grande editora, mas sim por nós mesmos, autores. Não é só a indústria editorial que está sendo transformada na cibercultura, como exemplifica a produção deste livro; mas, sim, todos os setores da nossa vida contemporânea: lemos e escrevemos de forma diferente; desenvolvemos novas formar de conversar, pensar e aprender; estabelecemos novas formas de amar e de nos relacionar com os amigos; temos novos comportamentos, novos estilos de viver e de ser. O nosso livro é exatamente isso.

 

 

Por Renata Ratton

Assessoria de Comunicação

Vice-Reitoria Acadêmica


 

Publicada em: 30/09/2014

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